A Besta
dirigido por Bertrand Bonello
2023
2023
Texto de Agatha Fernandes
‘A Besta’, o mais novo longa do diretor francês Bertrand Bonello, é um filme altamente ousado, estranho, experimental, surreal, um tanto obtuso, desafiador e, acima de tudo, belo.
A trama segue duas almas conforme elas continuamente se encontram em três de suas vidas: em Paris do ano 1910, em Los Angeles de 2014, e em um futuro próximo controlado por inteligência artificial, onde emoções fortes começaram a ser vistas como perigosas e necessitadas de remoção; narrando suas colisões ao longo do tempo e espaço, mostrando de tudo do bom ao ruim, do belo ao horrendo.
Bonello não apenas salta entre eras temporais ao longo do filme, mas também entre gêneros cinematográficos e propostas narrativas. Dentre as três seções do longa temos, respectivamente, um moroso romance de época, um suspense de invasão de domicílio, e por último, uma melancólica distopia futurista.
A porção de ficção científica do filme é seu cerne, a que entrelaça as demais histórias, já que a protagonista está vendo suas vidas passadas graças a um procedimento a fim de purificar seu DNA e livrá-la de suas emoções mais poderosas, para que passe a senti-las mais serenamente. No entanto, esta é talvez a parte mais fraca do longa. Seu marasmo é potente e palpável, mas superficial. Ela parece não fazer muito além de simplesmente dizer “deixar com que IA controle a sociedade é ruim”. Acaba por se tornar algo desajeitado; de nenhuma maneira ruim, mas sim precisando de mais consideração e refinamento.
‘A Besta’ é uma história sobre ansiedade, sobre um pavor constante de que algo terrível está a caminho, sobre o medo de se apaixonar e as diversas maneiras que isso pode afetar alguém. É um filme muito desafiador neste aspecto, fazendo a audiência olhar internamente e confrontar os piores aspectos da natureza humana; mas ele também afirma que este medo é o que fundamentalmente nos faz humanos.
Conta com excelentes performances de suas duas estrelas principais. Léa Seydoux é fantástica como Gabrielle, perfeitamente capturando a melancolia e ansiedade de suas personagens. George McKay (que ficou conhecido após estrelar em 1917), também é esplêndido como Louis, sendo ele quem mais muda entre seus personagens, fazendo essa troca de maneira habilidosa.
A identidade estética de ‘A Besta’ é fortíssima, tendo estilos, atmosferas, e cinematografias completamente distintas entre suas porções temporais, mudando sua apresentação de acordo com o período retratado e brincando com sua cronologia e a própria mídia cinematográfica, retrocedendo o filme e distorcendo a imagem, a fim de uma experiência mais visceral.
‘A Besta’ é, apesar de suas imperfeições, um grande acerto em seu experimentalismo e ousadia na forma de contar sua história. Enquanto não um dos melhores, este é definitivamente um dos filmes mais memoráveis de 2023.
Publicado em 10 de novembro de 2023