São cenas grandiosas, tecnicamente complexas e de arrancar o fôlego. Ethan Hunt é colocado em situações cada vez mais inacreditáveis e perigosas e, mesmo sabendo que ele vai sair vivo de cada uma delas, a tensão e a ansiedade que elas causam são palpáveis.
Todas as mortes de "Laços de Sangue" são imensamente criativas, e os preâmbulos para o desastre conseguem instigar uma ansiedade e agonia insuportáveis; todas comparáveis aos melhores momentos da franquia inteira.
Se o cinema de terror sempre usou monstros para refletir os medos da sociedade, "Pecadores" devolve esse olhar para as estruturas de opressão, fazendo do vampiro uma caricatura do supremacista branco. Ou seja, o casting de atores brancos para representação dos vampiros e a decisão de fazer com que eles se convertam após a transformação, não é por acaso. É como se Ryan quisesse nos mostrar que os monstros podem ser mais humanos do que a própria humanidade.
A grande sacada do filme é que ele não se limita a ser apenas sobre Ney: é sobre todos nós, sobre como é viver à margem da sociedade e, ainda assim, encontrar um caminho para brilhar.
Eggers traz a ‘Nosferatu’ sua característica obsessão e rigor em relação à autenticidade histórica e à complexidade de sua linguagem audiovisual. Uma abordagem que combina com no que ele transforma a clássica história de ‘Nosferatu’, um conto de obsessão e repressão.
Seria mais preciso chamar ‘O Auto da Compadecida 2’ de uma releitura moderna do clássico do que uma sequência propriamente dita. Embora dê continuidade à história dos sertanejos interpretados por Mello e Natchergaele, o filme majoritariamente retraça os passos do original: seguindo as malandragens de João Grilo, enquanto Chicó se mete em enrascadas atrás de amor.
‘Megalópolis’ é uma obra complexa e certamente falha, e cabe apenas ao espectador decifrar o que ela significa. Coppola buscou fugir do convencional, e esse objetivo ele com certeza alcançou.
A performance magistral de Fernanda Torres comunica perfeitamente este conflito. Uma mãe que, enquanto lida com o luto pelo desaparecimento do seu marido, tentando lutar para que ele volte para casa, também tenta esconder esse pesar de seus filhos, e manter sua família feliz através de toda essa turbulência. Uma contradição que está constantemente estampada no rosto de Torres, uma melancolia e raiva borbulhando sob a superfície, mas se segurando para não deixá-las vir à tona na frente de seus filhos.
Um filme que argumenta a favor da sororidade, o companheirismo entre todas as mulheres; já que todas, de uma forma ou de outra, sofrem sob a sociedade patriarcal. Que usa da sua ambientação mítica para comentar a forma como mulheres foram (e continuam a ser) vilanizadas através da história.
A inércia transpassada no filme mostra que a agressividade de Monk irradia por frustração ao que vivencia e nega sem dó nem pena de si: ele vê o racismo, o preconceito, e tenta ser mais do que sua pele escura, mas quando a nega, nega a si, assim, criando uma casca de mau-humor que julgam ser parte da vida adulta, o que é considerado comum em nossa sociedade (...)
Apesar de uma proposta legal e divertida, ele nunca parece mergulhar na loucura que essa situação apresenta. Acaba então, sendo uma boa recomendação de filme para ver sem pensar muito e dar umas risadas com o John Cena vestido de Britney Spears.
Desde o início, “Donzela” se afirma, até mesmo no próprio marketing da Netflix, como não sendo um conto de fadas. O filme é. Há uma grande mistura entre uma estrutura narrativa bem conservadora e um revisionismo já muito utilizado no gênero. Isso acaba abalando o filme de uma forma em que inicialmente as cores e tons lembram muito uma fantasia mais adulta, como “Game of Thrones”, mas que volta para o infantil nos figurinos, ou melhor, fantasias, e na fotografia sem profundidade que, por sinal, é horrível. Não existe nenhum aprofundamento do universo da história, seja narrativamente ou visualmente.
(...) sinto que o filme se assume como uma grande metáfora, uma alegoria, política? Talvez. Romântica? Talvez. Existencialista? Talvez. Nada em “ O Astronauta” é dotado de muita concretude, é um filme extremamente vazio, ironicamente contrariado pelo seu enorme apetite.
A direção magistral de Justine Triet é o que congrega todos esses aspectos – atuações, roteiro, e outros elementos como a linda e sutil fotografia, usando planos abertos e fechados com claros propósitos, e uma montagem que com facilidade move a história com fluidez – formando assim um filme inesquecível. Uma direção que entende o valor de cada elemento do audiovisual e os usa da melhor maneira possível.
Scorsese mais uma vez usa dos trejeitos de seus filmes clássicos de máfia, retratando um esquema de violência organizada a serviço do capital, mas desta vez retira qualquer semblante de glória que os personagens possam sentir com suas conquistas. Assassinos da Lua das Flores é um filme saturado de tragédia e pesar, os Osage morrem brutalmente e nunca vemos os personagens aproveitando dos frutos de seus atos nefastos, tudo é contado de uma maneira incrivelmente sóbria.
Quando olhamos para a narrativa, ou seja, para os fatos que acontecem, ela é genérica, sendo a história de sempre de pessoas rejeitadas pela sociedade que começam se odiando e vão se entendendo. Mas quando vamos para as cenas, elas são muito bem executadas, com diálogos e personagens bem desenvolvidos.
2024
Visualmente falando, ‘Duna: Parte Dois’ é uma façanha sem igual. Algo que fica claro desde a primeira cena, uma cena de ação que lembra a ‘Sicario’, outro filme do diretor, pela sensação que ela passa de calma antes da tempestade, uma antecipação que vira uma cena eletrizante. Uma cena banhada em laranja, colocando o público no deserto junto com Paul de uma maneira expressionista. Um sentimento que também é comunicado pelo preto e branco de alto contraste na cena introdutória de Feyd-Rautha, e pelas visões que Paul tem durante o filme.
2023
A performance de Bradley Cooper, assim como seu roteiro, é extremamente forçada, não apresentando qualquer tipo de naturalidade. É difícil ver essa atuação como algo além de uma tentativa desesperada de chamar a atenção da Academia.
"Vidas Passadas" é um dos melhores filmes dessa temporada de premiações e um dos melhores filmes de 2023. Um melodrama simples, honesto e profundamente tocante, que utiliza-se de um dispositivo clássico para fazer um retrato contemporâneo. O primeiro longa de Celine Song indica que a jovem diretora tem uma carreira brilhante pela frente.
Com “O Menino e a Garça", Miyazaki continua sua fórmula de contar histórias impactantes e profundamente emocionantes, por meio de mundos fantásticos e complexos, nos dando apenas uma ideia superficial de como esses mundos funcionam. Apenas o suficiente para nos cativar e contar as histórias que ele quer contar.
"Zona de Interesse" não é um filme de terror, mas ele com certeza é horripilante. Mostrando como, com tempo o suficiente, até mesmo as maiores perversidades irão se tornar banais e comuns. Nos países com um passado de escravismo e segregação, tais práticas eram vistas como habituais e partes fundamentais dessas sociedades. O genocídio palestino por parte de Israel está acontecendo há décadas, há tempo o suficiente para o ato de chama-lo de “genocídio” ser algo controverso. O mal vira rotina, o ódio se torna mundano, e a crueldade é empurrada para as profundidades dos subconscientes daqueles privilegiados o suficiente para poder ignorar tudo isso.
Tudo chama a atenção, jogando o espectador em um exercício natural e fluido de percepção; nada parece estar posicionado por acaso, assim como cada cena durante as 2h21min de filme é estritamente necessária à sua própria maneira (inclusive as muitas cenas de sexo. Tipo, muitas mesmo).
Os diálogos e as atuações são ruins, destacando negativamente o vilão, que parece ter sido escrito por uma inteligência artificial. Quanto à edição, há uma confusão que, inicialmente, parece proposital, mas logo se torna irritante, especialmente junto com a fotografia, que usa muitos movimentos que poderiam ser interessantes, mas que, devido à edição, acabam confundindo.
A gravidez de Melanie e Marcela foi uma das coisas mais lindas e necessárias que já assisti. A maneira com que as mães lidam com os obstáculos e a forma com que o amor prova-se forte em todos os momentos, faz com que tudo fique mais leve, mesmo sabendo de todas as dificuldades durante uma gravidez, mais ainda quando se trata de uma gravidez de duas mulheres enfrentando a sociedade heteronormativa (...)
‘A Besta’ é uma história sobre ansiedade, sobre um pavor constante de que algo terrível está a caminho, sobre o medo de se apaixonar e as diversas maneiras que isso pode afetar alguém. É um filme muito desafiador neste aspecto, fazendo a audiência olhar internamente e confrontar os piores aspectos da natureza humana; mas ele também afirma que este medo é o que fundamentalmente nos faz humanos.
‘Bottoms’ acompanha as melhores amigas PJ (Rachel Sennott) e Josie (Ayo Edebiri), uma dupla de lésbicas sexualmente frustradas que, em uma tentativa de atrair atenção das líderes de torcida, começam um clube da luta dentro de sua escola. Conforme o clube vai ganhando popularidade, o time de futebol americano da escola ameaça sabotá-las.
O filme não perde uma única oportunidade de ridicularizar o fascismo como ideologia, aqueles que se privilegiam de sua existência, e também aqueles que flertam com ele com a desculpa de querer “lutar contra ele de dentro”. No entanto, seus diálogos densos e ritmo lento acabam atrapalhando a efetividade de sua sátira, fazendo com que o longa se arraste, moribundo, através de sua metragem.
A direção de arte não tem medo de brincar com fogo, sendo este um elemento constantemente presente no cenário: as fogueiras, as velas, o show pirotécnico no baile de máscaras… Um jogo de vermelhos e turquesas é jogado o tempo todo. Também nota-se constantemente o uso da Regra dos Terços para o posicionamento da câmera, fazendo com que o espectador foque seu olhar exatamente no que a produção deseja. A simetria não falha um momento sequer.
Pode-se dizer que todo filme do Kleber é extremamente pessoal, mas esse aqui ganha o prêmio. A carga e o apelo afetivo das informações jogadas na cara do espectador são altíssimas e é exatamente isso que torna o filme tão cativante, excluindo os aspectos técnicos impecáveis, o assunto nos prende muito aos acontecimentos retratados, que vão desde a abertura de cinemas para propaganda nazista até o fechamento dos mesmos para serem utilizados como templos religiosos.
‘Fale Comigo’ é o mais puro horror em formato cinematográfico. Desde o momento em que somos apresentados à misteriosa mão embalsamada – cuja origem e exata natureza é mantida um enigma – e aos espíritos com os quais ela permite contato, o filme jamais perde força. Fantasmas estão sempre logo fora de vista, nos cantos escuros das salas. O pavor é constante.
Besouro Azul é sobre Jaime Reyes, um personagem que encontrou um escaravelho que se une ao seu corpo para criar uma armadura para o mal. O único problema é que o escaravelho tem personalidade própria, o que gera conflitos entre Jaime e Khaji Da (o escaravelho). Essa versão acabou por se tornar bem popular entre os jovens, tanto que aparece na segunda temporada da série Young Justice. O porquê de eu estar falando de tudo isso é muito simples: precisamos entender o contexto da obra para compreender o que estamos analisando.
‘Asteroid City’ é uma história sobre diversas coisas: luto, o horror existencial de descobrir que não estamos sozinhos no universo, quarentena, o processo criativo; todos esses temas constantemente dialogando entre si. Um filme repleto de personagens melancólicas, cheias de culpa e agonia; de crianças ignorantes da escala daquilo que está acontecendo no mundo ao redor delas, e de adolescentes em algum lugar no meio disso.
O filme, apesar de ter uma coragem em seus primeiros minutos, a deixa de lado conforme avança, sacrificando o enredo para se encaixar em um modelo mais padrão da típica jornada do herói. Dificilmente algo com o selo Bird Box irá ser um fracasso em questão de audiência, algo que se provou lucrativo, será sempre uma aposta segura. O fato de usarem a fórmula do primeiro filme só evidencia a intenção de expandir esse universo para outros lugares do mundo.
‘Barbie’ conta uma história feminista altamente existencial e emocional. A jornada de Barbie (o ideal da mulher empoderada) descobrindo a existência do patriarcado, machismo, e as dores de ser uma mulher no mundo real; descobrindo que ela não é simplesmente um símbolo de empoderamento feminino, mas também de padrões de beleza irrealistas, obrigando Barbie a refletir qual o seu propósito no mundo.
Se Frankenstein foi o Prometeu Moderno, então Oppenheimer foi o Frankenstein Contemporâneo: um cientista genial, obcecado pela conquista do impossível (no caso deste, o entendimento do paradóxico mundo quântico); no entanto, perdido demais em seu próprio ego para compreender as terríveis consequências que suas invenções trariam.