Superman
dirigido por James Gunn
2025
2025
Texto de Luka Rosa
Superman (2025), dirigido e roteirizado por James Gunn, apresenta uma nova visão do Superman: um herói amadurecendo em um mundo politicamente instável. Kal-El (interpretado por David Corenswet) foi enviado à Terra após a destruição de Krypton, um planeta que ruiu por negligência e instabilidade interna, ecoando a autossabotagem de civilizações avançadas. Citando o que é apresentado para o espectador no início do longa: há mais de 300 anos, os meta-humanos surgiram no mundo, há 30 anos, Kal-El chegou à Terra, e há 3 anos, ele iniciou suas atividades como o herói conhecido e amado por todos.
Neste momento, fora das telas, o cenário político norte-americano é marcado pela eleição de Donald Trump e por políticas imigratórias extremamente severas. Paralelamente, os conflitos entre Israel e Palestina seguem se intensificando: Israel reivindica, há décadas, o direito sobre as terras palestinas, o que tem resultado em guerras devastadoras. Ou seja, não é por acaso que o filme do Superman foi lançado agora. Esse contexto, somado aos conflitos intensificados entre Israel e Palestina, parece dialogar diretamente com os temas abordados no longa, juntando ficção e realidade num lugar inesperado: um filme de super-herói. O que, para muitos, parece ser apenas entretenimento, vai muito além disso, é um filme para se pensar e analisar.
Na trama, Superman se envolveu numa quase-guerra entre Jarhanpur e Borávia, e a situação presente ali faz uma analogia muito direta entre o conflito Palestina-Israel. Setores influentes da economia global, que lucram com a manutenção de conflitos armados, também são sugeridos no subtexto do filme como forças que se beneficiam da guerra. O país da Borávia, fazendo referência direta à Israel, invade Jarhanpur para tomar suas terras e Superman intervém para proteger à população daquele país, o que desencadeia diversos problemas geopolíticos. Então, surge um questionamento: O Superman é perigoso? Qual o objetivo dele para com a Terra e os humanos?
Então, o herói mais amado do mundo começa a sofrer muito 'hate' nas redes sociais, e também começa a ser tratado como um imigrante pelo governo americano, que, com a influência direta de Lex Luthor (interpretado por Nicholas Hoult), dono da LexCorp, começa a realmente considerá-lo como uma ameaça. Tudo pela inveja: Superman é tudo aquilo que Lex sempre quis ser, e nunca poderá. Até mesmo em termos de humanidade, Superman, que é considerado um imigrante, um estrangeiro (um alienígena), é muito mais humano do que Lex, que é um puro americano, nascido nos Estados Unidos. A provocação é clara: o que nos torna realmente humanos?
A abordagem progressista de James Gunn, vista por alguns como ‘woke’ (termo usado para a preocupação com a injustiça social e a discriminação), dividiu opiniões entre os fãs. Para uns, essa é uma distorção da essência do personagem; para outros, é um resgate legítimo do que Superman sempre representou. Mas, na verdade, o real Superman sempre foi assim, ele sempre se importou com as minorias, e sempre foi um amigo (como é possível ver no filme de 1978, quando ele se apresenta para Lois Lane como um amigo a quem confiar, e não como um herói visto quase que como um semideus). Ele é um personagem carismático, que se lembra dos nomes das pessoas a quem salvou, com altos códigos de honra e ética (como não beber, não falar palavrão, não matar…), e a versão do Homem de Aço de Zack Snyder (2013) parece ter feito os fãs se esquecerem da real personalidade do personagem: ele é colorido, divertido, empático.
É impossível não comparar este Superman com o de Zack Snyder: são versões completamente diferentes. Enquanto a de Snyder é mais semelhante ao do universo de Injustice, o herói de James Gunn se assemelha muito mais ao dos quadrinhos originais — e também vale a menção honrosa de Superman (1978) e da série Superman & Lois (2021) —, mostrando um personagem que realmente traz no peito o símbolo de Esperança. Gunn resgata um Superman que, em tempos de crise e polarização, volta a carregar no peito não só o símbolo da esperança, mas também o peso de um mundo que precisa urgentemente dela.
Publicado em 14 de julho de 2025