Pecadores
dirigido por Ryan Coogler
2025
2025
Texto de Luka Rosa
"Pecadores" é definitivamente uma carta de amor ao terror gótico, inovando no gênero com protagonismo preto. Dirigido por Ryan Coogler, que é conhecido por filmes como Pantera Negra (2018) e Creed: Nascido Para Lutar (2015).
A obra conta a história de um jovem chamado Sammie (Miles Caton), que acompanha seus primos gêmeos trambiqueiros, Elias “Fumaça” e Elijah “Ferrugem” (Michael B. Jordan), na abertura de um bar para as pessoas pretas do sul dos EUA, numa época onde o racismo estava em ascensão na América do Norte, com divisões raciais ridículas (como “banheiro para brancos”). Apesar da presença de diversos personagens, Sammie ainda é o protagonista da história, pois tudo se desenvolve a partir das decisões que ele toma e como elas se desenrolam. Sammie representa herança cultural e resistência, e isso fica nítido quando ele vai contra o que seu pai diz e decide cantar no bar dos primos.
Fumaça e Ferrugem estão para abrir um bar de blues com foco na comunidade preta da região, e chamam o pequeno Sammie para se apresentar no local, no primeiro ato do filme, então, os primos estão em busca de velhos conhecidos que podem ajudá-los nessa jornada de abertura. Porém, as coisas começam a dar errado quando um empecilho surge: o vampiro Remmick (Jack O’Connell).
Ryan Coogler usa da narrativa fantástica para fazer suas críticas ao racismo de um jeito dinâmico e engraçado, de um jeito ácido: como quando fez Remmick transformar membros da Klu Klux Klan em vampiros que pregam o amor ao próximo e a visão de que todos somos iguais. Se o cinema de terror sempre usou monstros para refletir os medos da sociedade, "Pecadores" devolve esse olhar para as estruturas de opressão, fazendo do vampiro uma caricatura do supremacista branco. Ou seja, o casting de atores brancos para representação dos vampiros e a decisão de fazer com que eles se convertam após a transformação, não é por acaso. É como se Ryan quisesse nos mostrar que os monstros podem ser mais humanos do que a própria humanidade.
O filme apresenta personagens muito interessantes, com muita complexidade, mas as 2h e 17 min parecem não ser suficientes para o desenvolvimento de todos eles, o que pode deixar a desejar, ainda mais sendo personagens tão icônicos e interessantes. E também com as inúmeras referências às situações do passado que são um pouco difíceis de serem visualizadas, como relacionamentos anteriores dos irmãos interpretados por Michael B. Jordan.
Todavia, é construída uma narrativa que captura o olhar do público e, ouso dizer, que é impossível alguém querer mexer no celular enquanto assiste à obra, porque a cada minuto que se passa, mais a trama se desenvolve da maneira mais inesperada possível; o que é algo bom, principalmente se você assistiu ao filme sem ler a sinopse, como eu. Não é à toa que "Pecadores" conseguiu uma aprovação de 97% no Rotten Tomatoes e uma nota de 8/10 no IMDb.
A sonoridade apresentada é espetacular. A música se integra à narrativa, com a mistura do folclore e do terror sobrenatural, com um toque exclusivo de drama social. "Pecadores" é um filme exagerado e extravagante, cheio de cores e, ironicamente, vida, como um teatro filmado, mas é um filme que eu assistiria milhares de vezes sem reclamar.
A fotografia merece destaque, ainda mais sendo dirigida por Autumn Durald Arkapaw (conhecida pela direção de fotografia da primeira temporada de "Loki" e também pelo filme "Wakanda Forever"), que entrou para a história sendo a primeira mulher a gravar um filme rodado em película IMAX. A decisão de gravar "Pecadores" em película foi especialmente escolhida em conjunto da direção geral e direção de fotografia, querendo transmitir com autenticidade à época e local em que o filme se passa, propondo uma experiência imersiva para o espectador, além da busca por inovação, fazendo uma homenagem à cultura afro-americana dos anos 30 dos EUA. Ou seja, a escolha da película não é mero capricho técnico, mas uma decisão estética que evoca o passado de maneira quase tátil, fazendo com que cada frame pareça uma fotografia de época que ganha vida. O filme grita personalidade e eu espero que essa proposta apresentada por Ryan esteja cada vez mais presente no cinema contemporâneo. Que tenha vindo para ficar!
Publicado em 02 de junho de 2025