Em 2021, Wes Anderson lançava seu décimo longa-metragem: ‘A Crônica Francesa’, que conta a história de um jornal e seus escritores, enquanto também relata as histórias presentes na mais recente edição deste jornal. Trata-se de um filme altamente metalinguístico que, além de trazer histórias divertidas, comenta sobre a própria arte da escrita e jornalismo.

Esta metalinguagem é trazida de volta, e amplificada ao extremo, em seu mais novo filme ‘Asteroid City’. Nele, Anderson transmite um programa de televisão relatando a história da produção de uma peça de teatro, enquanto ela é paralelamente apresentada aos espectadores, a peça é ‘Asteroid City’ propriamente dita.

Espaçado entre as cenas da peça, nos são mostrados os dramas dos bastidores da produção, o processo de escrita do roteiro, as cenas e atores que acabaram sendo cortados por qualquer motivo, tudo com o humor característico de Wes Anderson.

‘Asteroid City’ é uma história sobre diversas coisas: luto, o horror existencial de descobrir que não estamos sozinhos no universo, quarentena, o processo criativo; todos esses temas constantemente dialogando entre si. Um filme repleto de personagens melancólicas, cheias de culpa e agonia; de crianças ignorantes da escala daquilo que está acontecendo no mundo ao redor delas, e de adolescentes em algum lugar no meio disso.

Contando com uma gigantesca lista de atores para dar vida a esses personagens, nenhum membro do elenco deixa a desejar. Jason Schwartzman e Scarlett Johansson merecem destaque como os personagens principais da peça, e seus equivalentes fora do palco, que, de várias formas, são iguais aos personagens que interpretam. Eles trazem uma profundidade sublime aos seus papéis, mas nunca deixando de lado a teatralidade de seus papéis, como é de costume do diretor.

Também merecem atenção: Tom Hanks, o cínico sogro de Jason Schwartzman, Tilda Swinton, uma cientista cheia de questionamentos sobre a vida, e Jake Ryan, o filho adolescente de Schwartzman. Ryan perfeitamente captura o equilíbrio entre a melancolia de ter a infinitude do universo a sua frente, mas ainda estando disposto a ignorar tudo isso a fim de aproveitar sua vida.

Com cada novo lançamento, Anderson parece sempre se superar na execução de seu estilo visual único, e com esse longa não é diferente. As cores saltam da tela, a meticulosidade na realização de cada cena é absurda, o filme é um espetáculo de encher os olhos.

O estilo de Wes Anderson há muito se encontra muito propício a quebras de quarta parede. O teatro e artificialidade de seus cenários deixa evidente a todos os instantes que estamos vendo um filme. Suas histórias geralmente se tratam de alguém narrando os acontecimentos para o público, e desta vez, esse elemento é aproveitado ao máximo para derrubar por completo a quarta parede. Tanto nas cenas da peça quanto fora dela, a ficcionalidade de todo o longa é constantemente colocada em evidência, tanto visualmente quanto nos diálogos.

‘Asteroid City’ é nada menos que uma sincera carta de amor à arte de contar histórias.