Missão: Impossível - O Acerto Final
dirigido por Christopher McQuarrie
2025
2025
Texto de Agatha Fernandes
Em 1996, Brian De Palma adaptava para o cinema um seriado de espionagem dos anos 60 chamado "Missão: Impossível", estrelando um dos atores em mais meteórica ascensão da época, Tom Cruise. Esse filme foi um sucesso instantâneo e solidificou Tom Cruise como um dos maiores e mais versáteis astros de Hollywood. Dando início a uma franquia que, pelos próximos 15 anos, infrequentemente ganharia novas sequências; para todos os efeitos, "Missão: Impossível" era apenas “mais uma” franquia de ação, sem muito para destacá-la do resto. No entanto, tudo isso mudou em 2011, quando Tom Cruise escalou o Burj Khalifa.
"Protocolo Fantasma" foi um ponto de virada pra franquia. A partir de então, "Missão: Impossível" (e, por consequência, o próprio Tom Cruise) virou sinônimo de exagero cinematográfico, um espetáculo sem igual, com cenas de ação cada vez mais grandiosas, em que Cruise era seu próprio dublê. Criando um padrão que se intensificaria a cada filme, culminando, por fim, em "O Acerto Final".
Sendo a segunda parte de "Acerto de Contas", lançado em 2023, "O Acerto Final" é essencialmente um clímax estendido para o primeiro filme. Pegando todas as peças que foram dispostas no último filme e construindo uma conclusão bombástica a partir disso.
A primeira hora do filme é lenta e melancólica, e repleta de flashbacks não apenas para o filme anterior, mas para toda a franquia, criando um senso de finalidade para o filme, reforçando a ideia de que esse talvez seja o último filme da franquia. Esse ritmo mais paciente pode causar um certo estranhamento no espectador que espera algo mais frenético desde o primeiro momento. Mas, depois dessa introdução, o filme acelera exponencialmente e nunca mais perde essa energia.
"O Acerto Final" pode definitivamente ser visto como um exemplo de cinema maximalista. Mesmo fora da ação, a quantidade de informação sendo exposta é colossal, tornando muito fácil o espectador se perder nos detalhes dos planos extremamente complexos de Ethan Hunt, com uma montagem tão veloz que faz até as cenas de diálogo parecerem elaboradas cenas de ação. E, quando a ação começa, Cruise e o diretor Christopher McQuarrie se mostram mestres em tensão e espetáculo cinematográfico. São cenas grandiosas, tecnicamente complexas e de arrancar o fôlego. Ethan Hunt é colocado em situações cada vez mais inacreditáveis e perigosas e, mesmo sabendo que ele vai sair vivo de cada uma delas, a tensão e a ansiedade que elas causam são palpáveis.
Um dos aspectos mais fascinantes de "O Acerto Final", no entanto, é seu astro e principal produtor, Tom Cruise; ou melhor, seu ego. Desde "Acerto de Contas" (e, fora desta franquia, desde "Top Gun: Maverick") é evidente que Tom Cruise se vê como uma espécie de “salvador do cinema contemporâneo”. E essa autoestima acaba infectando seu personagem, Ethan Hunt. A trama deste filme é Hunt enfrentando uma inteligência artificial onipotente chamada “A Entidade”, capaz de destruir o mundo com arsenais nucleares e deturpar o próprio conceito de “verdade”, manipulando fatos e a realidade digital a seu bel-prazer.
Evitar um apocalipse nuclear não é nada novo para Hunt; inclusive, essa é a terceira vez que essa ameaça é o conflito central de um "Missão: Impossível". Mas, desta vez, a ameaça que A Entidade representa à própria noção do que é verdade ou não o torna um inimigo mais existencial do que físico, tornando o conflito do filme essencialmente uma batalha do Bem contra o Mal, elevando Ethan Hunt a um status inconfundivelmente messiânico.
Sem dúvida alguma, Tom Cruise está tentando promover uma narrativa na qual ele é um messias do cinema de ação, o que, por vezes, faz "O Acerto Final" ser uma gritante autopromoção. No entanto, independentemente de concordar ou não com essa narrativa, é inegável que Cruise consegue fazer maravilhas na frente de uma câmera.
Publicado em 13 de junho de 2025