O Astronauta
dirigido por Johan Renck
2024
2024
Texto de João Victor Mingrone
Baseado no romance tcheco “Spaceman of Bohemia”, de Jaroslav Kalfar, temos em “O Astronauta", de Johan Renck, um filme que se perde pela disparidade entre como ele se apresenta e o que quer ser. Interessado em mostrar, inicialmente, a relação mórbida, homem e ambiente, mais precisamente entre o astronauta Jakub (Adam Sandler) e sua nave espacial, que, por ser tão claustrofóbica concebe uma grande sensação em quem assiste, ou até mesmo possível tema: a solidão. Infelizmente, para um provável aprofundamento na temática, uma aranha gigante falante, Hanus (Paul Dano) aparece. Aqui há um esvaziamento do recém apresentado ponto de discussão do filme. Com a chegada do novo personagem, um novo e principal tema nasce: o ressentimento.
Para lidar com esse novo foco dramático, o diretor utiliza de inúmeras cenas que retratam memórias, endireitando para que todo o contexto espacial praticamente desapareça, dando enfoque para lembranças extremamente deslocadas e visualmente cansativas pelo abuso máximo da distorção. Grande parte dessas memórias revelam, ou tentam revelar, a péssima relação de Jakub com sua esposa Lenka (Carey Mulligan).
Tudo no filme se torna muito complexo, no sentido de realização, pela ambição. O contraste entre a simplicidade do ambiente e a ganância narrativa é enorme. Existem muitas informações que são jogadas na tela, dificultando o entendimento do que a obra quer ser. Em algumas das lembranças que aparecem vemos a infância de Jakub. Aqui, lançando novamente um tema vazio, o filme tenta, de forma mais preguiçosa possível, entrar na esfera política tratando da questão da invasão Russa na Tchecoslováquia e do ressentimento tcheco desse momento histórico.
A partir dessa recordação, sinto que o filme se assume como uma grande metáfora, uma alegoria, política? Talvez. Romântica? Talvez. Existencialista? Talvez. Nada em “ O Astronauta” é dotado de muita concretude, é um filme extremamente vazio, ironicamente contrariado pelo seu enorme apetite.
Concluo dizendo que não é um filme horrível, é perdido. E dentro dessa confusão existe um grande potencial desperdiçado. Algumas coisas no filme funcionam e são bem legais, vale ressaltar a atuação de Adam Sandler, que é competente, como já mostrou ser em outros dramas. O caminho para o final também é agradável. Nesse ponto, é visível que todo interesse já perdido no decorrer da história em uma forma de relação inversa é recuperado pelas cenas de Jakub no espaço, quando o longa brevemente se assume como uma ficção científica.
Publicado em 15 de março de 2024