Donzela
dirigido por Juan Carlos Fresnadillo
2024
2024
Texto de João Victor Mingrone
É evidente que a relação entre tempo e estímulo está cada vez mais presente no cinema. Quando não há uma grande quantidade de estímulos, precisa-se mexer na duração. E aí está “Donzela”, um filme extremamente corrido e até mal distribuído que, por um breve instante, parece ser grandioso, mas se desdobra como extremamente genérico
Quando assisti ao filme “O homem de palha” (1973), de Robin Hardy, lembro de ficar aterrorizado na cena do sacrifício. Já em “Donzela” há uma cena similar, narrativamente, que se passou como um simples fato para a progressão do filme. Isso é um ótimo exemplo de péssima construção da mise-en-scéne. Em “Homem de Palha” existe um domínio total do que está na tela, a cena é trabalhada com o mais puro capricho. Sem pressa, a trama se desenrola com uma excelência no abuso do que o cinema pode oferecer.
Desde o início, “Donzela” se afirma, até mesmo no próprio marketing da Netflix, como não sendo um conto de fadas. O filme é. Há uma grande mistura entre uma estrutura narrativa bem conservadora e um revisionismo já muito utilizado no gênero. Isso acaba abalando o filme de uma forma em que inicialmente as cores e tons lembram muito uma fantasia mais adulta, como “Game of Thrones”, mas que volta para o infantil nos figurinos, ou melhor, fantasias, e na fotografia sem profundidade que, por sinal, é horrível. Não existe nenhum aprofundamento do universo da história, seja narrativamente ou visualmente.
A linguagem do filme é feita pela mistura dessas duas ideias e o que elas implicam cinematograficamente. É curioso ver como a cinematografia pode mudar o que o filme quer transmitir. O início, planejado para ser a parte alegre, é a mais sombria. E no momento que o longa quer ser obscuro, após o sacrifício, fica infantilizado.
É visível que nada funciona, fazendo com que ele se sustente, comercialmente, apenas pelo nome da atriz principal, Millie Bobby Brown, que tem uma participação terrível, apoiando toda sua força dramática em gritos e mais gritos.
Os gritos são apenas mais uma manifestação de um problema geral do filme, aquele que me afastou da obra, a artificialidade, no pior sentido que a palavra pode ter. Essa característica não necessariamente é ruim, o filme que se vê como filme se vê também, por consequência, como artificial. De qualquer modo, encerro afirmando que mesmo sendo um filme preguiçoso, ele consegue prender certa atenção, muito provavelmente, como dito antes, por essa narrativa mais conservadora do gênero.
Publicado em 24 de março de 2024