Besouro Azul
dirigido por Angel Manuel Soto
2023
2023
Texto de Pedro Soneca Furtado
Besouro Azul é um filme que nasceu para ser lançado na HBO Max, porém com as constantes mudanças no DCEU e na Warner em dezembro de 2021, foi anunciado como um lançamento nos cinemas. Junto a isso, é importante lembrar que, com os fracassos de Liga da Justiça e Esquadrão Suicida, a DC decidiu produzir obras que funcionam sozinhas, como é o caso de Coringa e Batman. O sucesso dessas obras fez os filmes seguintes se tornarem mais centralizados em contar história dos heróis sem se preocupar com um grande plano que uniria a todos, assim Shazam nasce como um filme simples focado no universo de um adolecente e seus poderes de origem mágica com poucas menções a outros heróis.
Mais ou menos o mesmo conceito será aplicado em Besouro Azul, focando no universo desse herói sem se preocupar com um universo expandido.
Além de toda essa parte de produção, também vale ressaltar a história, que nasceu em 1939 na editora Fox Feature Syndicate e que depois seria comprada pela Charlton Comics. Logo depois, teve seus direitos vendidos à DC em 1983. Durante esse tempo, cada editora trouxe sua versão do Besouro Azul, mas acabou sendo o último a usar esse manto a ser adaptado para as telonas.
Besouro Azul é sobre Jaime Reyes, um personagem que encontrou um escaravelho que se une ao seu corpo para criar uma armadura para o mal. O único problema é que o escaravelho tem personalidade própria, o que gera conflitos entre Jaime e Khaji Da (o escaravelho). Essa versão acabou por se tornar bem popular entre os jovens, tanto que aparece na segunda temporada da série Young Justice. O porquê de eu estar falando de tudo isso é muito simples: precisamos entender o contexto da obra para compreender o que estamos analisando.
Então vamos falar do filme! Vou começar dizendo que o amei e por conta de que conversa com muitas realidades minhas (e talvez você não goste justamente por não se identificar com os personagens e situações, e tudo bem - mas se você for latino, tenho certeza que irá aproveitar a experiência como eu aproveitei).
Para falar o que me agradou, posso dizer que o roteiro, apesar de simples (isso pode parecer uma reclamação, porém é um elogio quando maioria dos filmes de ação americanos tentam fazer obras complexas onde tudo pode acabar com o mundo), Besouro Azul aposta numa trama simples que explora a relação familiar do protagonista, seu interesse amoroso, a ameaça apresentada e suas descobertas perante aos seus poderes vindo da tecnologia alienígena, tudo isso conversando entre si e sem atrapalhar ou se atropelar. Isso tudo é guiado por uma direção que sabe o que está fazendo.
Falando na direção, achei impressionante o seu trabalho nesse filme. Ela que consegue fazer todas as funções trabalharem juntas para saírem o melhor possível, o que se dá para ver em como a direção de fotografia e edição se conversam muito bem nas cenas de ação para fazer entendermos as ações dos envolvidos. Claro que tudo isso também se sustenta pelos efeitos visuais.
Vale citar além das cenas de ação a primeira transformação de Jaime Reyes em Besouro Azul, onde todos os elementos previamente elogiados se ajudam para criar um cena tensa com desdobramentos cômicos, inclusive suportados pela atuação nessa obra com personagens que são cativantes.
Xolo Maridueña novamente consegue mostrar sua competência ao interpretar um protagonista que varia entre cômico e o dramático. Bruna Marquezine também está digna de nota, fazendo um interesse amoroso com muito mais camadas do que uma dama indefesa, sendo até uma personagem com bastante agência na história e tendo inclusive uma fala marcante em português. George Lopez faz o tio de Jaime, um alívio cômico que muitas vezes surpreende nas cenas mais dramáticas; o resto da família do Jaime consegue nos arrancar risos e lágrimas conforme a trama segue. Por outro lado, a dupla de vilões acaba sendo caricata até o final, quando tem mais foco.
Tudo isso no filme se sustenta com um roteiro que sabe muito bem fazer referências inteligentes à cultura latina, com citação da telenovela Maria do Bairro e até do maior herói latino (Chapolin); mas não apenas de referência de vive o filme: também existe um representatividade da nossa cultura nele, principalmente nossas dificuldades.
O começo do filme estabelece um problema muito comum dos latinos, a falta de dinheiro para o aluguel que se mostra um problema complexo, principalmente por conta da impossibilidade do pai do protagonista conseguir trabalhar após um infarto. Isso leva a diálogos inteligentes para nos ambientar nesse mundo dominado por um empresa que tem objetivo de expandir a qualquer custo, inclusive muitos desdobramentos dessa sub-trama são feitos de forma muito eficientes ao se comunicarem com imagens e não só com diálogos.
O filme ainda usa todo essas trama para criticar o capitalismo, que deixa os pobres ainda mais pobres e o ricos ainda mais ricos, claro que de forma muito sutil. Não só nesse momento o filme consegue trazer sua crítica, mas como no terceiro ato descobrimos uma possível ligação entre uma personagem e a revolução cubana (isso vem desde falas diretas sobre o passado revolucionário da personagem como das que lembram pensamentos da época, uma em específico sendo quando ela fala que é um momento de lutar e depois podem chorar, lembrando muito a fala de Che Guevara “É preciso endurecer, mas sem jamais perder a ternura”).
Esse filme se mostra profundamente crítico aos EUA, é claro que limitado a críticas que não vão realmente mobilizar as pessoas, ao mostrar uma empresa que lucra com guerras nos países latinos como grande vilã, isso tudo mais um identidade latina que a luta constante contra o imperialismo americano.
Publicado em 22 de agosto de 2023