Após seus sucessos internacionais ‘Jackie’ e ‘Spencer’ (ambos misturas de ficção e fato histórico), Pablo Larraín retorna a histórias de ficcionalização de figuras históricas, desta vez em seu país natal, o Chile, e mais fantasioso do que nunca (contando uma história onde Augusto Pinochet é na verdade um vampiro com mais de 250 anos que meramente forjou sua morte em 2006).

‘O Conde’ é uma sátira sombria que transforma o vampirismo em uma analogia ao fascismo e como esta ideologia consegue escapar da morte através do tempo, reaparecendo quando menos se espera.

Neste conto, Pinochet era um jovem soldado durante a Revolução Francesa de 1789, que testemunhou a execução de seus mestres reais, e após descobrir ser um vampiro, forjou sua morte e viajou o mundo lutando contra qualquer revolução popular que encontrara, até chegar ao Chile e decidir que queria ele mesmo deter o poder desta vez.

Agora, nos dias atuais, após forjar sua morte novamente para escapar do escárnio e dos escândalos de corrupção aos quais era sujeito, Pinochet vive em uma reclusa mansão com sua mulher e seu servo mais leal. O ex-ditador anseia pelo descanso eterno oferecido pela morte, mas sua mulher se recusa a deixá-lo morrer, até que uma freira, posando como uma contadora, chega em cena mandada pela Igreja mas com misteriosas motivações próprias) para exorcizá-lo.

A tenebrosidade da história é elevada pela sua nítida e belíssima cinematografia em preto e branco, com contrastes acentuados, com uma clara inspiração pela estética gótica, sua direção de arte anacrônica e melancólica, além do tema vampírico.

O filme não perde uma única oportunidade de ridicularizar o fascismo como ideologia, aqueles que se privilegiam de sua existência, e também aqueles que flertam com ele com a desculpa de querer “lutar contra ele de dentro”. No entanto, seus diálogos densos e ritmo lento acabam atrapalhando a efetividade de sua sátira, fazendo com que o longa se arraste, moribundo, através de sua metragem.

Com elementos de terror espalhados ao longo do filme, combinado com momentos sinistramente cômicos, ‘O Conde’ perturba e choca o público, transformando Pinochet tanto em uma figura deplorável e mesquinho, quanto em uma grande ameaça para a sociedade graças a sua sede por sangue.

Em resumo, ‘O Conde’ é um filme excêntrico, que contém diversas ideias interessantes e marcantes, mas que não consegue plenamente executar todas elas.