Frankenstein
dirigido por Guillermo del Toro
2025
2025
Texto de Agatha Bezzon
Desde 1935, após a primorosa duologia de James Whale, toda adaptação cinematográfica da obra magna de Mary Shelley tem de se contentar em viver à sombra de duas das maiores obras do cinema de horror. Por isso, a maior parte delas busca se destacar trazendo uma visão dramaticamente diferente da de Whale. ‘Frankenstein de Mary Shelley’ (1994) optou por uma adaptação mais fiel do romance. ‘O Jovem Frankenstein’ parodiou aquilo que havia vindo antes. ‘A Maldição de Frankenstein’ transformou Victor Frankenstein no vilão da própria história. ‘Frankenhooker’ fez... bem, Frankenhooker.
O nome de Guillermo Del Toro já era mais do que suficiente para destacar ‘Frankenstein’ (2025) em meio deste mar de adaptações. O cineasta mexicano vem, em seus últimos filmes, explorando histórias de criaturas estranhas com mais humanidade do que as pessoas ao seu redor, com uma mensagem de que os seres humanos são “os verdadeiros monstros”. ‘A Forma da Água’ e ‘Pinóquio de Guillermo Del Toro’ também compõem essa trilogia temática não oficial: adaptando ou se inspirando em histórias clássicas e transformando-as em fábulas, de acordo com o estilo autoral já estabelecido do diretor.
‘Frankenstein’ (2025) segue essa fórmula quase cegamente, Del Toro muda elementos da história original com o expresso propósito de servir essa mensagem que ele quer comunicar à audiência. Pegando algumas partes da história original, descartando outras e substituindo-as pelos seus maneirismos de roteiro, criando uma história que tem a roupagem do clássico de Mary Shelley, mas que é fundamentalmente algo diferente.
Fixado em transformar A Criatura em apenas uma vítima, Del Toro tira toda a complexidade da sua contraparte literária. Ele não mais é uma figura complicada, cuja raiva e frustração pelo abandono de seu criador o leva a cometer atos horrendos, mas sim meramente uma criança inocente abandonada pelo seu pai. Victor também perde sua complexidade, deixando de ser um cientista cegado pela possibilidade de progresso científico, criando algo aberrante, se tornando apenas um pai ausente com nada além de asco por seu filho.
Embora essa interpretação possa resultar em uma releitura fascinante, Del Toro não consegue equilibrar as mudanças que traz à história com seu desejo de fidelidade à obra. Adaptar uma obra como ‘Frankenstein’ é como jogar Jenga: com qualquer mudança que você fizer na história, você corre o risco de toda a narrativa desabar, se você não tiver o cuidado e consideração necessária. Del Toro fundamentalmente muda os personagens e o que eles representam na narrativa, a fim de imprimir sua interpretação da história, mas, ao mesmo tempo, quer que a história continue a mesma, honrando este romance clássico. Esses dois desejos são inerentemente opostos, e esse conflito faz com que nenhum seja realizado com êxito.
Publicado em 30 de novembro de 2025