Após a aclamação que receberam com ‘Shiva Baby’, a dupla de diretora e atriz Emma Seligman e Rachel Sennott se reúne novamente para produzir ‘Bottoms’, uma comédia sexual adolescente com toques de absurdismo.

‘Bottoms’ acompanha as melhores amigas PJ (Rachel Sennott) e Josie (Ayo Edebiri), uma dupla de lésbicas sexualmente frustradas que, em uma tentativa de atrair atenção das líderes de torcida, começam um clube da luta dentro de sua escola. Conforme o clube vai ganhando popularidade, o time de futebol americano da escola ameaça sabotá-las.

O principal objetivo do filme é simplesmente divertir o público, e este ele alcança com facilidade. ‘Bottoms’ é cativante, hilário, e deliciosamente absurdo, mesclando o humor atrevido de outras comédias adolescentes dos anos 2000 com a agressividade de filmes como ‘Clube da Luta’ (mesmo que com um ar mais cômico). Há uma cena onde uma espada entra em cena do nada, e graças à atmosfera de absurdismo de toda a história, isso acaba fazendo sentido no contexto, sem aparentar estar fora de lugar.

Todo o elenco dá vida a seus personagens de forma incrível, todos eles são amáveis à sua própria maneira. Sennott é ótima como a complicada PJ, trazendo à tona sua moral às vezes duvidosa, e também o constrangimento social de sua personagem. Idem com Edeberi, que possui uma fantástica química tanto com Sennott, quanto com Havana Rose Liu, seu par romântico, que por si só é encantadora. Ruby Cruz também é adorável como a imprevisível Hazel, que possui uma certa paixão por explosivos caseiros.

No entanto, apesar de todo o absurdismo do filme, permanece a sensação de que ‘Bottoms’ poderia ter sido maior. Não que o filme careça de algo, ou que ele não seja bom, mas sim que ele poderia ter ido mais além, ter sido mais absurdo, mais atrevido. Continua sendo uma experiência fantástica, altamente hilária, mas acaba não sendo tão provocativo ou caótico quanto poderia ter sido (com a exceção do final insano do longa).

A direção de Emma Seligman aparenta não refinada e amadora. Parece que ela não tem tanta precisão ou controle do quadro fora do ambiente fechado de ‘Shiva Baby’. Essa falta de precisão poderia em teoria auxiliar em sua abordagem à comédia, mas acaba significando que o longa frequentemente está na iminência de ser algo grandioso, apenas de vez em quando o alcançando.

Apesar de tudo isso, ‘Bottoms’ ainda é um filme divertidíssimo, um ótimo renascimento da comédia sexual adolescente. Uma experiência engraçadíssima e agressiva, cheias de situações ridículas. É bom para o que é, mas ainda poderia ter sido mais.