Um Lobo entre os Cisnes
dirigido por Marcos Schechtman e Helena Varvaki
2025
Um Lobo Entre os Cisnes, dirigido por Marcos Schechtman e Helena Varvaki, marcando a estreia de Helena como co-diretora, é um filme de 2024, mas que chegou aos cinemas em 2025. Foi selecionado para o 34° Cine Ceará e é uma obra biográfica, que conta a história do bailarino Thiago Soares, um brasileiro que atuou no ballet de Nova Iorque e tem, até hoje, uma carreira impressionante.
A obra detalha como o bailarino deixou de lado o hip-hop para dançar balé, através de uma bolsa, para ajudar nos custos da casa de sua tia, com quem ele morava. A princípio, o personagem, assim como grande parte de seu círculo de amigos, possuía grande preconceito com a dança, achando se tratar de algo homossexual — no sentido, infelizmente, pejorativo. Ainda que abrace a trajetória do protagonista rumo ao balé, o filme parece sentir a necessidade constante de reafirmar sua heterossexualidade, que é um recurso que se torna excessivo, especialmente pelas múltiplas relações amorosas exibidas em sequência, o que enfraquece a construção emocional do personagem.
A trajetória de Thiago teve a ajuda de um grande coreógrafo cubano, Dino Carrera, que se tornou seu mentor e, posteriormente, amigo. Ele é um jovem cheio de preconceitos e muito arrogante, beirando ao egocentrismo, enquanto Dino é um senhor que já perdeu muita coisa e encontra na dança e na música um motivo para continuar. A relação de ambos é construída de uma maneira linda e com muitos desafios. Desafios provocados pelas personalidades complexas de ambas as personagens, que, mesmo sendo tão diferentes, conseguem ao mesmo tempo ser muito parecidas, cheias de orgulho.
Thiago é apresentado como um jovem difícil de lidar e com grande gênio, o que faz com que o espectador tenha dificuldades em se identificar com ele ou até mesmo ter empatia. No momento de mais tensão da obra, quando esperamos que ele tenha uma atitude considerada decente, Thiago decepciona ao tomar uma decisão apenas para impressionar os próprios amigos, que parecem não querer que ele se dê bem na vida, convencendo a faltar treinos e se tornando má influências, além do típico preconceito com o estilo de dança. A construção do personagem e seu desenvolvimento para uma pessoa decente só acontece quando há uma decadência na saúde de seu mentor, Dino, que é quando acontece um click na mente do protagonista e ele finalmente acorda para a vida.
Deixando de lado a maneira como Thiago foi escrito — torço para que seja um exagero e ele não seja uma pessoa tão complicada assim —, as personagens secundárias e os coadjuvantes são muito bem escritos. Um dos seus interesses românticos, Germana, é uma jovem bailarina rica que motiva o protagonista a dançar. Inclusive, o próprio protagonista afirma que Germana foi sua motivação, mas o que o roteiro dá a entender é que sua entrada no balé se deu mais por interesse em estar perto de mulheres do que por qualquer inspiração artística genuína.
As coreografias da obra são extremamente bem feitas e delicadas, a dança se torna um personagem na trama, e as músicas escolhidas conversam com a história, o que faz valer a pena aguentar a personalidade difícil do bailarino.
Apesar de ser difícil criar empatia com o protagonista, sua jornada é, sem dúvida, algo admirável. Ver como ele “saiu da merda”, como ele mesmo diz no filme, para se tornar um dos grandes nomes do balé é inspirador. A história que o filme conta precisava ser registrada, e o resultado, ainda que imperfeito, faz jus à importância dessa jornada. As escolhas narrativas que insistem em reforçar a heterossexualidade de Thiago acabam enfraquecendo o impacto emocional da obra, mas não anulam seu valor. É um filme que vale ser visto tanto pela beleza da dança quanto pela força da superação retratada.
Publicado em 11 de agosto de 2025