Duna 2
dirigido por Denis Villeneuve
2024
2024
Texto de Agatha Fernandes
Após o lançamento da ambiciosa primeira parte, o diretor quebequense Denis Villeneuve completa a história de ‘Duna’ de forma monumental. Um evento cinematográfico, e estabelecimento de uma saga, que acabará sendo lembrado como o ‘Star Wars’ e ‘O Senhor dos Anéis’ dessa geração, e uma das melhores sequências da história, superando o filme original em todos os aspectos.
Neste segundo filme, Villeneuve abraça completamente a estranheza e surrealismo dos livros de Frank Herbert, algo que, em comparação com os trabalhos recentes do diretor que costumam ser friamente sóbrios, é uma mudança muito bem-vinda, mas que também lembra alguns dos filmes do começo de sua carreira, como ‘Redemoinhos’ e ‘O Homem Duplicado’.
Denis Villeneuve consegue expandir sobre o material original, fazendo adições que fazem essa adaptação se destacar por si só. A principal dessas adições está na caracterização de Chani (Zendaya) que, comparado ao livro, tem um papel muito mais ativo em relação à história. Não mais uma devota de Paul Muad’Dib (Timothée Chalamet) graças ao seu amor por, mas uma pessoa própria que defende suas opiniões. Ela resiste à ascensão ao poder de Paul, e Zendaya perfeitamente retrata esse conflito entre amor e desilusão.
A influência de Lady Jessica no desenvolvimento de Paul é muito mais evidente no filme, e Rebecca Ferguson é assustadora como a manipuladora bruxa Bene Gesserit. Ela sempre foi retratada como culpada, mas aqui ela é completamente vilanesca, assombrosamente manipulando tanto os Fremen quanto o próprio Paul para que ele se torne o líder sagrado de Arrakis.
Da mesma forma, Timothée Chalamet entrega sua melhor performance até então como Paul Muad’dib Atreides. Sua gradual perda de inocência e humildade chega a ser dolorosa e aterradora de assistir. E quando ele finalmente se perde em seu próprio ego e vira um fascista espacial, ele se torna tão manipulador e horripilante quanto a mãe, mostrando tudo o que ele é capaz de fazer como ator, sendo o mais ameaçador e autoritário possível.
Feyd-Rautha nos livros já era uma grande ameaça, mas no filme essa ameaça é completamente exacerbada. Graças a atuação de Austin Butler, ele se torna uma selvagem força da natureza em ‘Duna: Parte Dois’. Sádico, maníaco e letalmente eficaz. Um vilão que merece ser lembrado como um dos melhores da história do cinema, graças a Butler. A maneira como ele incorpora o personagem, a forma como ele fala, são absolutamente aterrorizantes.
Todas as performances desse filme são especiais em suas próprias maneiras. O Stilgar de Javier Bardem é um líder poderoso e perfeitamente retrata a evolução de admiração a idolatria. A Lady Margot Fenring de Léa Seydoux é sedutora, mas com um sutil ar de poder e superioridade. O Barão Harkonnen de Stellan Skarsgård é ardiloso, perverso e patético.
Visualmente falando, ‘Duna: Parte Dois’ é uma façanha sem igual. Algo que fica claro desde a primeira cena, uma cena de ação que lembra a ‘Sicario’, outro filme do diretor, pela sensação que ela passa de calma antes da tempestade, uma antecipação que vira uma cena eletrizante. Uma cena banhada em laranja, colocando o público no deserto junto com Paul de uma maneira expressionista. Um sentimento que também é comunicado pelo preto e branco de alto contraste na cena introdutória de Feyd-Rautha, e pelas visões que Paul tem durante o filme.
Quando Villeneuve não está sendo expressionista, ele é absolutamente épico, com uma escala e grandiosidade quase intangível. Um nível de espetáculo raramente visto no cinema, filmado por um diretor com uma inabalável confiança em suas habilidades. Um filme que merece ser visto na maior tela possível, justificando a distribuição IMAX do longa. Uma magnitude que também é refletida pelo elemento sonoro do filme. Um design sonoro e trilha musical que são tão monumentais quanto o resto do filme. Imersivos, estridentes, épicos.
‘Duna: Parte Dois’ leva o cinema blockbuster para níveis que foram vistos pela última vez duas décadas atrás com a trilogia de ‘O Senhor dos Anéis’. É hipnotizante, instigante e impressionante. Villeneuve supostamente já está trabalhando no encerramento de sua trilogia, uma adaptação de ‘Messias de Duna’, prometendo ser uma conclusão epopeica a uma trilogia que promete entrar para a história.
Publicado em 08 de março de 2024