CRÍTICAS
Publicadas em 2024
‘Megalópolis’ é uma obra complexa e certamente falha, e cabe apenas ao espectador decifrar o que ela significa. Coppola buscou fugir do convencional, e esse objetivo ele com certeza alcançou.
A performance magistral de Fernanda Torres comunica perfeitamente este conflito. Uma mãe que, enquanto lida com o luto pelo desaparecimento do seu marido, tentando lutar para que ele volte para casa, também tenta esconder esse pesar de seus filhos, e manter sua família feliz através de toda essa turbulência. Uma contradição que está constantemente estampada no rosto de Torres, uma melancolia e raiva borbulhando sob a superfície, mas se segurando para não deixá-las vir à tona na frente de seus filhos.
Um filme que argumenta a favor da sororidade, o companheirismo entre todas as mulheres; já que todas, de uma forma ou de outra, sofrem sob a sociedade patriarcal. Que usa da sua ambientação mítica para comentar a forma como mulheres foram (e continuam a ser) vilanizadas através da história.
A inércia transpassada no filme mostra que a agressividade de Monk irradia por frustração ao que vivencia e nega sem dó nem pena de si: ele vê o racismo, o preconceito, e tenta ser mais do que sua pele escura, mas quando a nega, nega a si, assim, criando uma casca de mau-humor que julgam ser parte da vida adulta, o que é considerado comum em nossa sociedade (...)
Apesar de uma proposta legal e divertida, ele nunca parece mergulhar na loucura que essa situação apresenta. Acaba então, sendo uma boa recomendação de filme para ver sem pensar muito e dar umas risadas com o John Cena vestido de Britney Spears.
Desde o início, “Donzela” se afirma, até mesmo no próprio marketing da Netflix, como não sendo um conto de fadas. O filme é. Há uma grande mistura entre uma estrutura narrativa bem conservadora e um revisionismo já muito utilizado no gênero. Isso acaba abalando o filme de uma forma em que inicialmente as cores e tons lembram muito uma fantasia mais adulta, como “Game of Thrones”, mas que volta para o infantil nos figurinos, ou melhor, fantasias, e na fotografia sem profundidade que, por sinal, é horrível. Não existe nenhum aprofundamento do universo da história, seja narrativamente ou visualmente.
(...) sinto que o filme se assume como uma grande metáfora, uma alegoria, política? Talvez. Romântica? Talvez. Existencialista? Talvez. Nada em “ O Astronauta” é dotado de muita concretude, é um filme extremamente vazio, ironicamente contrariado pelo seu enorme apetite.
A direção magistral de Justine Triet é o que congrega todos esses aspectos – atuações, roteiro, e outros elementos como a linda e sutil fotografia, usando planos abertos e fechados com claros propósitos, e uma montagem que com facilidade move a história com fluidez – formando assim um filme inesquecível. Uma direção que entende o valor de cada elemento do audiovisual e os usa da melhor maneira possível.
Scorsese mais uma vez usa dos trejeitos de seus filmes clássicos de máfia, retratando um esquema de violência organizada a serviço do capital, mas desta vez retira qualquer semblante de glória que os personagens possam sentir com suas conquistas. Assassinos da Lua das Flores é um filme saturado de tragédia e pesar, os Osage morrem brutalmente e nunca vemos os personagens aproveitando dos frutos de seus atos nefastos, tudo é contado de uma maneira incrivelmente sóbria.
Quando olhamos para a narrativa, ou seja, para os fatos que acontecem, ela é genérica, sendo a história de sempre de pessoas rejeitadas pela sociedade que começam se odiando e vão se entendendo. Mas quando vamos para as cenas, elas são muito bem executadas, com diálogos e personagens bem desenvolvidos.
2024
Visualmente falando, ‘Duna: Parte Dois’ é uma façanha sem igual. Algo que fica claro desde a primeira cena, uma cena de ação que lembra a ‘Sicario’, outro filme do diretor, pela sensação que ela passa de calma antes da tempestade, uma antecipação que vira uma cena eletrizante. Uma cena banhada em laranja, colocando o público no deserto junto com Paul de uma maneira expressionista. Um sentimento que também é comunicado pelo preto e branco de alto contraste na cena introdutória de Feyd-Rautha, e pelas visões que Paul tem durante o filme.
2023
A performance de Bradley Cooper, assim como seu roteiro, é extremamente forçada, não apresentando qualquer tipo de naturalidade. É difícil ver essa atuação como algo além de uma tentativa desesperada de chamar a atenção da Academia.
"Vidas Passadas" é um dos melhores filmes dessa temporada de premiações e um dos melhores filmes de 2023. Um melodrama simples, honesto e profundamente tocante, que utiliza-se de um dispositivo clássico para fazer um retrato contemporâneo. O primeiro longa de Celine Song indica que a jovem diretora tem uma carreira brilhante pela frente.
Com “O Menino e a Garça", Miyazaki continua sua fórmula de contar histórias impactantes e profundamente emocionantes, por meio de mundos fantásticos e complexos, nos dando apenas uma ideia superficial de como esses mundos funcionam. Apenas o suficiente para nos cativar e contar as histórias que ele quer contar.
"Zona de Interesse" não é um filme de terror, mas ele com certeza é horripilante. Mostrando como, com tempo o suficiente, até mesmo as maiores perversidades irão se tornar banais e comuns. Nos países com um passado de escravismo e segregação, tais práticas eram vistas como habituais e partes fundamentais dessas sociedades. O genocídio palestino por parte de Israel está acontecendo há décadas, há tempo o suficiente para o ato de chama-lo de “genocídio” ser algo controverso. O mal vira rotina, o ódio se torna mundano, e a crueldade é empurrada para as profundidades dos subconscientes daqueles privilegiados o suficiente para poder ignorar tudo isso.
Tudo chama a atenção, jogando o espectador em um exercício natural e fluido de percepção; nada parece estar posicionado por acaso, assim como cada cena durante as 2h21min de filme é estritamente necessária à sua própria maneira (inclusive as muitas cenas de sexo. Tipo, muitas mesmo).
Os diálogos e as atuações são ruins, destacando negativamente o vilão, que parece ter sido escrito por uma inteligência artificial. Quanto à edição, há uma confusão que, inicialmente, parece proposital, mas logo se torna irritante, especialmente junto com a fotografia, que usa muitos movimentos que poderiam ser interessantes, mas que, devido à edição, acabam confundindo.