A Hora do Mal
dirigido por Zach Cregger
2025
2025
Texto de Agatha Bezzon
Por mais que na superfície eles pareçam completamente opostos, os gêneros de comédia e horror compartilham uma estrutura muito semelhante: preparação e recompensa. Ou seja, antes de entregar a recompensa (um susto ou uma piada), deve antes haver um trabalho de “preparação de terreno” para essa entrega. Um susto sem uma tensão crescente é ineficaz, assim como uma piada sem uma construção para ela. Por isso, não é de se surpreender que vários diretores da nova geração do terror tenham um passado na comédia, como: Jordan Peele (‘Corra’, ‘Não, Não Olhe’), John Krasinski (‘Um Lugar Silencioso’), e David Gordon Green (‘Halloween’, ‘Exorcista: O Devoto’). O mais recente dessa leva de diretores é Zach Cregger, que anteriormente fazia esquetes de comédia com o grupo 'The Whitest Kids U' Know', fez sua estreia no terror em 2022 com ‘Noites Brutais’, e agora retorna com ‘A Hora do Mal’.
O filme apresenta uma pequena cidade que é abalada por um acontecimento bizarro: às 02:17 de uma noite qualquer, 17 das 18 crianças da sala de aula de Justine Gandy (Julia Garner) levantam de suas camas, abrem as portas de casa e correm em direção à escuridão, desaparecendo como se tivessem evaporado. A narrativa começa um mês após esse incidente; com as crianças ainda desaparecidas, seus pais voltam sua frustração e raiva para a professora Justine, acusando-a de ser a responsável pelos desaparecimentos.
‘A Hora do Mal’ possui uma estrutura narrativa bastante inspirada em filmes como ‘Pulp Fiction’ e ‘Magnólia’, saltando entre pontos de vista de diversos personagens de forma não-linear, assim controlando o fluxo de informação que é revelada à audiência. Além da professora Gandy — que, em vigilância constante graças ao descontentamento dos pais de seus alunos, fica obcecada pelo bem estar de Alex (Cary Christopher), o aluno restante — o filme também acompanha Archer Graff, o pai de uma das crianças desaparecidas que, obcecado, persegue Justine e tenta encontrar respostas por conta própria. Há também uma história paralela de um policial (Alden Ehrenreich) antagonizando um morador de rua (Austin Abrams), que lentamente revela sua conexão com a trama central.
Embora seja categorizado e vendido como um filme de terror, ‘A Hora do Mal’ é, sobretudo, um suspense de mistério, com momentos de terror salpicados durante a trama, crescendo em frequência e tensão conforme o filme avança. Começando com momentos lentos de horror crepitante, em ambientes escuros o suficiente para achar que algo pode estar se escondendo em qualquer sombra, eventualmente culminando em situações de vida ou morte, que lembram o último filme do diretor: ‘Noites Brutais’. Cregger também insere momentos de comédia no filme, imbuindo a história com toques de humor mórbido.
Embora seja uma história divertida, bem construída e aterrorizante em partes, ‘A Hora do Mal’ pode frustrar alguns devido à narrativa fragmentada. Essa descentralização do roteiro faz com que alguns temas do filme não tenham o desenvolvimento que merecem. A paranóia e ostracismo social de Justine são quase que onipresentes no primeiro ato do filme, mas são abandonados assim que o filme salta para a trama paralela, fazendo o filme não ser tão coeso quanto poderia.
Publicado em 20 de agosto de 2025